sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

CRÔNICAS DE VERÃO – DOIS


A VIDA NECESSITA DE PAUSAS

Tenho aproveitado estes dias de LUZ e praia para colocar a cabeça em dia para enfrentar as agruras...ou não, deste novo ano. Para fazer isso, nada melhor do que caminhar na praia...

Normalmente, nas caminhadas diárias que fazemos, tirando as elucubrações mais ou menos complexas, nossos pensamentos passam, na maioria das vezes, por duas diferentes frentes.

Uma, ao que chamo de “planejamento estratégico” onde ensaiamos mentalmente os novos passos na direção do cumprimento de Nossos objetivos.

Outra, representa nossas “viagens mentais”. Ou seja, os sonhos do que faríamos, por exemplo, se ganhássemos sozinhos na megasena acumulada ou se o Bill Gates resolvesse doar pra gente metade da sua fortuna...

Como diz a minha amiga Wilma Bolsoni, o mundo se divide em duas grandes classes. A das pessoas que tem brilhos nos olhos e as que não. Ela própria, dona de um brilho que nos seduz logo no primeiro olhar...

Para viver a vida e preciso paixão e um pouco de insanidade, mas aquela insanidade que algumas vezes nos leva ate a outra linha dos pactos civilizatórios em movimentos pendulares que depois nos retorna ao centro, onde também não devemos parar... pois a vida e cíclica, pendular.

Fato que, ao caminhar pela praia nesta manha ensolarada, vou vendo nos olhos das pessoas que cruzam, as que têm o tal brilho e fico imaginando em que viagem cada uma dessas pessoas esta absorta nesse exato instante.

Na praia, em geral, vemos as pessoas como elas são ou como deveriam ser se não fossem obrigadas a se encastelar em papeis e performances sociais. Assim, as pessoas me parecem leves e amigáveis. Capazes de dar bom dia, boa tarde... ajudar outras pessoas , abraçar...

Isso me fez lembrar do meu amigo Sergio, meu professor e psicanalista Junguiano, com o qual fiz inúmeras sessões ao longo de 6 meses no ano de 1994. Nessa ocasião eu tinha o “plano secreto” de deixar minha carreira de financista e achava importante conversar com alguém, absolutamente neutro, sobre algo que certamente daria uma guinada de 180 graus na minha vida.

Lembro-me do que me perguntou, na primeira sessão. Qual era o motivo de procurá-lo como terapeuta, ao que respondi que estava na eminência de uma importante separação. Perguntou-me se era uma relação amorosa, respondi que sim, pois que minha relação com a Instituição Financeira que já durava 21 anos, representava um casamento onde o amor não havia se exaurido. Apenas, em plena crise dos 40 (39 anos e seis meses) e, totalmente consciente da inexorabilidade do tempo, entendia que era chegado o momento de levar o meu barco para outros portos.

Lembro-me como se fosse hoje que, o melhor desses encontros com o Sergio era o longo e apertado abraço que eu recebia ao final de cada sessão. Era um abraço de “corpo inteiro”, ou seja, de uma amizade e um calor humano profundo, como deveriam ser todos os abraços. Eu saia dali com o coração totalmente aquecido e cada vez mais forte em relação às decisões que eu deveria tomar e que certamente não seriam fáceis... mas foram. Pois realmente virei essa pagina de minha vida e nunca mais olhei para traz, em nenhum momento dos anos que se seguiram...nem nos momentos mais difíceis.

Fico aqui pensando como tem pessoas cujo único objetivo na vida e o de sobreviver ou conquistar e manter o poder. Tenho muita pena dessas pessoas. São pessoas, que provavelmente nem fazem suas caminhadas diárias, se esquecem realmente de viver a plenitude da vida. Como dizia a criança que habitava em Carlos Drumonnd... A vida necessita de pausas, como se fosse a inesquecível “hora do recreio”...

Caminhando na praia, vejo essas “crianças” em que pessoas de todas as idades são transformadas e fica claro que nascemos para desfrutar as dádivas da natureza, das relações humanas, dos sonhos e de tudo aquilo que faz com que sejamos esses artesãos capazes de construir pontes para o infinito.

E você... continuas com aquele brilho nos olhos ou o deixou esquecido em alguma praia longínqua!

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