domingo, 5 de abril de 2009

OS HABITANTES DE GAIA


Nos últimos 25 anos tenho estado cada vez mais preocupado com o que comumente chamamos de qualidade de vida no Planeta Terra. Evidente que isso não passa de mera redundância hoje, pois não imagino nenhum ser humano pensante e que tenha acesso às informações que não o esteja.

Ma o que me tira o sono algumas vezes, esta relacionado a questões que não nos fazemos no dia a dia. Claro que com o passar dos anos nos damos conta de que somos finitos e, não por acaso, a relação entre funerais e batizados, muda dramaticamente à medida que vamos atingindo a maturidade.

Claro que não quero fazer deste texto um “choratorio” ou lamentar a finititude da humanidade e da vida que, a cada dia, vemos passar mais veloz... e creiam, não se trata mais de uma questão de tempo e sim de velocidade mesmo, pois tudo parece estar ocorrendo bem mais rápido do que num passado não muito distante. Sem duvida, estamos vivendo nossas vidas de uma forma pouco romântica, meio sem poesia... na correria!

Lembro-me da letra da musica do Belchior (com Toquinho), chamada “pequeno perfil de um cidadão comum”, onde dizia:

“Era um cidadão comum
Como esses que se vê na rua.
Falava de negócios, ria,
Via show de mulher nua.
Vivia o dia e não o sol,
A noite e não a lua.”

...e fico incomodado com o fato de que estou contemplando menos por-de-sois; observando menos montanhas; curtindo menos flores e tudo aquilo que me faz amar, curtir e respeitar a natureza. Talvez seja disso que a maioria das pessoas ande acometida nesses loucos tempos e, por isso mesmo, estejamos destruindo tão rapidamente todas as espécies e o próprio ecossistema. Não deve ser possível valorizar ao que atribuímos, cada vez menos valor...

Mas estava pensando ca, com “os meus botões” quantas pessoas já teriam habitado Gaia, nossa casa, desde que nos entendemos por “gente”, ou seja, desde que surgiu em seu “colo” o que chamamos de “homo sapiens”. A pergunta que eu me fiz foi: quantos seres humanos como a gente teriam passado por nossa mãe Terra nos últimos 15.000 anos?

Instintivamente fui pro “meu amigo” Google e... surpresa! La estava um artigo do Fernando Reinach, meu ex-colega na .comDominio, projeto de DataCenter que compartilhamos no inicio dessa década. Um dia conto essa historia de como um grupo de “cientistas” da USP, com a participação do Fernando (também conhecido como um dos Pais do Projeto Genoma no Brasil), se juntou a um grupo de economistas (dos quais o Pérsio Arida, este o “Chairman” da Cia.) pra descolar alguns Milhões de Dólares com Banqueiros; Natura Capital; Votorantim Capital e outros, para construir um Data Center num momento em que se questionava a evolução da Internet no Brasil e no Mundo...

Mas voltando ao ponto central...

Reencontrei o Fernando escrevendo uma elucubração sobre minha especifica angustia e falando justamente sobre a quantidade acumulada de “viventes” nesse nosso sofrido Planeta... foi algo revelador!

Os números e as conclusões deixo pra vocês no texto que transcrevo a seguir, mas vale ressaltar algumas constatações que aprendi e sobre as quais realizei minhas inferências pessoais pra dizer que ESTAMOS VIVENDO MUITO MAIS TEMPO, se considerarmos que a 8.000 A.C. o homem vivia de 10 a 15 anos e que hoje a expectativa de vida subiu para praticamente 80 anos, mas QUE ESTAMOS VIVENDO MAL. Alem do fato de que os nascimentos por mil vem diminuindo dramaticamente ao longo dos séculos, o que nos leva a crer que estamos caminhando para uma realidade inexorável: estamos construindo um “mundo de idosos”.

Ora, se vamos ter cada vez mais idosos... com que qualidade e em que ambiente, estamos envelhecendo? Como os sete bilhões de almas que se estima, seremos em 2012, se nenhuma “Profecia Maia” nos exterminar, desfrutara de um ecossistema cada vez mais doentio e insalubre, lembrando que saúde não significa, necessariamente, a ausência de doenças e sim a qualidade com que vivemos?

Bem, leiam, tirem suas conclusões e quem sabe vamos criando essa “corrente” que pode nos ajudar a transformar “quantitativo” em “qualitativo”, ou seja, que a equação maturidade X qualidade ambiental X qualidade de vida possa ser modificada radicalmente.

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"Quantas almas existiriam nesse lugar se todos os mortos estivessem lá?"

Fernando Reinach é biólogo (fernando@reinach.com). Artigo publicado em "O Estado de SP":

Na serra de Caraguatatuba senti pela primeira vez o peso de ser Homo sapiens. Quando subíamos, meu pai parava em Paraibuna para comemorar que o DKW não havia fervido e alimentar os filhos. Foi com uma calabresa na mão que vi a frase no portão do cemitério: "Nós que aqui estamos por vós esperamos." Com 8 anos deixei o mundo animal, onde não
há consciência da morte, e me tornei humano, eternamente esperando morrer. Anteontem, ao passar por Paraibuna, lembrei de ficar impressionado com a imagem dos mortos esperando pelos vivos. Quantas almas existiriam nesse lugar se todos os mortos estivessem lá?

É um problema que merece um "back of the envelope calculation". Fazer cálculos nas "costas de um envelope" é uma das tradições da comunidade cientifica. No afã de pôr as idéias no papel, muitas descobertas foram rabiscadas em envelopes e guardanapos. Pena que nas escolas a necessidade de "resolver o problema" não deixa espaço para fazer
contas para satisfazer a curiosidade.

Parei para uma calabresa no Fazendão. Em guardanapos, tentei calcular quantas pessoas habitaram o planeta nos últimos 15 mil anos. Estimei a população da Terra a cada mil anos, lembrando que na época de Cristo não éramos 100 milhões, e hoje, mais de 6 bilhões. Imaginando que existem quatro ou cinco gerações por século, concluí que viveram no
planeta entre 30 e 90 bilhões de humanos.

A felicidade de saber que 10% das almas que passaram por aqui estão vivas durou o tempo de acessar o Google. Em 2002, Carl Haub fez de maneira quase científica a mesma conta.

Sobrou o prazer de descobrir que minha conta no guardanapo não estava tão errada. Haub chegou a 106 bilhões. Em 2002, postulou que 6% das almas viviam. Hoje faz mais sentido colocar na maternidade de Paraibuna a placa "Nós que aqui estamos (os vivos) por vós esperamos (crianças ainda por nascer)". Talvez isso nos leve a calcular quantos
humanos passarão pelo planeta antes da extinção do Homo sapiens.

Mais informações: How Many People Have Ever Lived on Earth?
(O Estado de SP, 15/1)