sábado, 7 de fevereiro de 2009

O EXECUTIVO GLOBAL


Esta semana, recebi um farto material dobre o tema “Resiliencia” de Executivos, face uma nova ordem competitiva mundial. Entenda-se resiliencia, segundo Tavares como:


“a capacidade de responder de forma mais consistente aos desafios e dificuldades, de reagir com flexibilidade e capacidade de recuperação diante de desafios e circunstâncias desfavoráveis, obtendo uma atitude otimista, positiva e perseverante e mantendo um equilíbrio dinâmico durante e após os embates”


Do ponto de vista natural, o ser humano já nasce "resiliente" (sendo, portanto, um atributo inato) considerando sua necessidade de dar respostas ao ambiente e suas hostilidades, claro que alguns mais aptos do que outros. Refiro-me aquela condição "adaptativa" colocada por Darwin e que também esta relacionada ao fator "lutar-fugir" que, do ponto de vista animal, vem impressa na nossa genética, não importa a habilidade que tenhamos eventualmente para ser melhor ou pior sucedido na tarefa de "sobreviver" aos riscos e ameaças do ambiente, nesse caso, refiro-me aos predadores mesmo.


Por outro lado, o ser humano, desprovido de "dotes" físicos que lhe permitissem reagir às ameaças (pois não corre muito, não voa, não produz defesas químicas e assim por diante...), mas dotado de um intelecto "superior", inventivo e capaz de produzir defesas e recursos "artificiais", teve a chance de sobreviver e prosperar num ambiente em que, de muitas formas, não lhe era favorável.

O intelecto que permitiu ao homem desenvolver "defesas" que o ajudaram, não somente a sobreviver, mas também a "dominar" outras espécies, inclusive poderosos predadores, criou paralelamente, um universo simbólico que também passou a reger as suas relações com outros homens e com a evolução de sua organização "tribal", para modelos complexos de organização.


Mesmo na natureza, ha um constante movimento de luta pelo poder; pelo território; pelas "fêmeas ou machos" melhor dotados (geneticamente...). Esse fator no homem, ainda mais exacerbado pelos aspectos diferenciais do desenvolvimento "tribal", dadas as distancias e fatores ambientais que incidiram sobre povoamentos separados "fisicamente" ao redor do Planeta (leve-se em consideração o ambiente físico; a fauna; a flora, etc.), criaram uma diversidade cultural e comportamental nos homens, mesmo que em sua "raiz" natural vários aspectos permanecessem comuns.

O Universo simbólico que o homem criou, de certa forma voltou-se contra ele, na medida em que a eterna competição antes natural assumiu, também, características e configurações simbólicas exigindo dele a criação de uma serie de subterfúgios que lhe permitissem não se autodestruir como espécie.


Explico:


Logo o homem percebeu que, para co-habitar o ambiente social e não se tornar presa das agruras do ambiente e dos predadores, mas considerando suas diferenças e a luta "velada ou não" pela satisfação individual de seus desejos (como animal, o homem também tem como objetivo a satisfação de seus desejos, apenas no homem essa problemática representa algo de grande complexidade, pois vai alem dos aspectos da sexualidade e necessidade de alimento). Para "sobreviver" e prosperar, o homem em diferentes culturas e de diferentes formas, estabeleceu "pactos civilizatórios", ou seja, regras (artificiais porem com a forca de leis que com o tempo se tornaram "essenciais") que num processo de "troca", permitiram mudar o foco das disputas, territoriais ou sexuais, para uma organização simbólica que representou uma espécie de tratado de "não agressão" do homem em relação ao homem (mesmo que nada mudasse no intimo, como disse Thomas Hobbes, em "O Lobo"... "o homem e o lobo do homem").


Os tratados Civilizatórios e a Globalização


A inteligência e a engenhosidade humana evoluíram ate tornar o Planeta numa gigantesca "Aldeia Global". Esse processo começou lento, a partir das "grandes navegações", movidos pela ambição natural do homem e fortemente apegados aos "símbolos" de riquezas que foram sendo introduzidos ao longo de séculos. Culminaram, apenas para encurtar a historia (mas seria bem interessante ler Darcy Ribeiro e Eduardo Galeano, por exemplo, apenas para conhecer um pouco melhor a "saga" dos povos Latino Americanos, onde obviamente nos incluímos) nos grandes conflitos Mundiais de 1914 a 1918 e 1939 a 1945 ). De la para ca, e de forma acelerada, o modelo capitalista se alastrou pelo Planeta criando um ambiento tenso e acirrado de competição entre diferentes povos e culturas (entenda-se Governos, Empresas, Pessoas...). O capital transnacional "viajou" pelos quatro cantos do planeta (e ainda viaja) e disseminou uma cultura de negócios onde o confronto; o perde e ganha e, acima de tudo, os movimentos "migratórios" de empresas e pessoas, se tornaram a tonica dos modelos de produção e gestão.


Dessa forma, independentemente dos "choques" etnológicos, como no nosso caso, "povos novos", tornou-se o mundo, um caldeirão de culturas onde etnias como "povos testemunho", como no caso a China; povos Transplantados" como no caso, os Estados Unidos, dentre outros, de culturas tão diversas, passaram a coexistir, criando um ambiente de altíssima competitividade onde, o "script" comum, no caso o Capital, passou a ter atores (Governantes, Executivos...) os mais diversos, representando choques culturais e conflitos de valores, num embate Global.


Competição Global X Resiliencia


Lembro-me como se fosse hoje, o inicio da chamada "invasão" Japonesa (Orientalizacao) nos EUA. O Japão pos-milagre econômico, representou uma prova irrefutável da necessidade de adaptação de um povo e sua gente (entenda-se Governos e Executivos, nesse caso) a uma situação radicalmente nova. Na medida em que o Pais investia fortemente nos EUAs, transferia "exércitos" de executivos que, em la chegando, sofriam "choques" culturais monumentais. Dessa forma, eram obrigados a se submeter a processos de "Resiliencia" que na maioria das vezes os derrotavam. Notório nesse período o índice de suicídios de executivos Japoneses que, levando sua cultura entranhada e submetidos a uma radical necessidade de ajustamento cultural e comportamental, alem dos aspectos da concorrência local, tombavam nessa dura batalha.

Mas sabemos que com o passar dos anos, não apenas os Japoneses se ajustaram, num processo extraordinário de Resiliencia, como acabaram por destruir, por exemplo, a indústria automobilística Americana.


Novos executivos para um novo ambiente


A velocidade com que o Planeta se interconectou, principalmente depois do advento da Internet como meio de propagação da informação, criou uma demanda acelerada pela qualificação dos executivos de todas as atividades. Em primeiro lugar, a concorrência, que passou de local para Global, determinou que, qualquer empresa, em qualquer atividade, independentemente de porte, pudesse se posicionar (desde que profissionalmente) em diferentes mercados. Não por acaso, as empresas de logística se tornaram gigantes conglomerados permitindo o translado de mercadorias, fisicamente, em velocidades estonteantes. Outro aspecto importante da concorrência global foi o fato de que um maior volume de produtos passou a demandar maior volume de serviços, muitos dos quais, feitos onde a mao de obra, se apresenta mais barata do que em países Ricos (basta olhas para a China das ultimas três décadas). Por exemplo, na indústria de software, Europeus e Norte Americanos preferem contratar desenvolvimento em países como Brasil; Índia; China; Romênia e assim por diante.

Toda essa complexidade comportamental global, a coexistência com a volatilidade do capital e ao mesmo tempo com a participação dos negócios num ambiente multicultural e sem fronteiras, passou a ditar uma demanda cada vez maior por executivos flexíveis e adaptáveis, cuja principal característica nos parece ser a Resiliencia, ou seja, a capacidade de tomar decisões rápidas e assertivas num ambiente de altíssima pressão. Mais do que isso, capazes de ao mesmo tempo mobilizar pessoas e conduzi-las (entenda-se liderá-las) nos processos diários de ajustamento ao ambiente interno e externo.


Não por acaso, tenho defendido a tese de que as empresas de sucesso de hoje e num futuro próximo, tendem a serem as empresas que eu chamo de "Neurais", ou seja, as que têm uma imensa mobilidade e a capacidade de converter inputs do ambiente em ações coordenadas e disseminadas, mas acima de tudo, discernindo e agindo em altíssima velocidade (uma velocidade sináptica ou... neural). Se entendermos que decisões envolvem perceber ameaças ou oportunidades; captar informações adicionais; processar informações rapidamente; decidir estratégias; tomar decisões e agir, tudo isso individualmente e em Equipe, considerando as peculiaridades de cada negócio, estamos falando de um processo desafiador. No entanto isso representa algo intuitivo para quem esta preparado e devidamente treinado e dispõe de uma equipe nas mesmas condições para dar respostas assertivas e...rapidamente.


O Perfil do Executivo Brasileiro


Quando analisamos essa realidade competitiva, podemos dizer que o Brasil, por suas peculiaridades, pela Multiracialidade, por sua historia recente de sobressaltos econômicos (com hiperinflação e gerenciando momentos de grande escassez) concluímos que temos aqui, um celeiro de "executivos Globais" como em poucos lugares no mundo. Podemos exportar como efetivamente exportamos, executivos para todos os rincões do planeta, assim como podemos suprir tanto as empresas Brasileiras quanto as Estrangeiras aqui instaladas, de executivos com grande capacidade de Resiliencia e adaptados a esse novo tempo de competição Global.


Mas para que esse movimento possa ser traduzido num programa articulado e efetivo que funcione como uma "usina" de talentos teremos apenas que somar aos atributos "genéticos e adquiridos" um processo educativo de formação de lideres e executivos que, alem de treinar e desenvolver tais competências, atitudes e comportamentos, possam disseminar, de uma forma horizontal, atributos como esses, dentro de todos os setores das organizações. A soma de cada individuo, numa visão sistema do modelo competitivo, tem que necessariamente resultar em algo bem maior do que o todo.