segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

“THE DREAM IS OVER”...


Hoje fiz uma daquelas viagens que só se faz com o coração tranqüilo e a alma leve. Depois de muito tempo, sentindo a necessidade de relembrar a historia dos Beatles que tanto influenciaram a minha juventude, na verdade a de toda uma geração ao redor do mundo.

Já havia lido, há muitos e muitos anos, a única Biografia autorizada deles, escrita por Hunter Davies, o que me tornou, de certa forma, aos 17 anos, “um especialista” (Risos...) em Beatles ao ponto de reunir um vasto material áudio-visual e fazer palestras para uma audiência ávida que em certas ocasiões chegava ao fantástico numero de mais de 500 pessoas, jovens como eu afetados e eletrizados pelos ídolos ingleses.

Assim, resolvi ler o Livro Beatlemania, do Ricardo Pugialli. Uma delicia, no formato Almanaque com um vasto arquivo fotográfico e fonográfico, seguindo rigorosamente a cronologia da Banda, inclusive com todas as turnês e shows.

Alem disso, recheado de notas de bastidor do Grupo, que abalou os alicerces da musica mundial, somente pra dizer um pouco da influencia que os “quatro cabeludos de Liverpool” exerceram sobre a nossa geração.

Ao fazer essa viagem eu, um Beatlemaniaco confesso, apesar de ter tomado contato com o fenômeno apenas em 1965, então com nove anos, retrocedi a uma época em que o tempo passava mais devagar e digeríamos de uma forma mais intensa as novidades. E que saudade!

Lembrei-me também dos anos de “chumbo” onde a ditadura militar dava as cartas no cenário social e político brasileiro, mas apesar de toda repressão, vivíamos uma efervescência cultural da maior riqueza na historia da Musica e outras manifestações artísticas. A arte, naquela época mais do que em qualquer outra, estava a serviço de uma mobilização comportamental que dava sentido a toda a produção cultural.

Como esquecer Roberto e Erasmo Carlos que com a sua Jovem Guarda capitanearam um movimento que catalisou toda uma geração e que nas “tardes de Domingo”, de uma forma “quase” ingênua, fazia com que jovens de todas as idades, seguissem o embalo, numa espécie de Beatlemania Tupiniquim.

Como se esquecer dos Festivais da Record onde despontaram; em meio à repressão, talentos como Caetano; Gil; Vandré; Milton Nascimento e Chico, apenas pra citar alguns. Consta, por exemplo, que o Chico escrevia 100 musicas em media, para cada uma que a censura da época deixava passar. Um monumental desafio que ao contrario de inibir, fortalecia a veia criativa dos artistas de então. E os recados, ainda assim, eram passados porque como em qualquer tempo, a censura e burra...

Confesso que fiquei com um no na garganta ao me lembrar daqueles tempos que se perderam, mas que de certa forma, permaneceram tão vivos em nossa memória, na memória daqueles que viveram, como eu, os “verdes anos” de nossa juventude e onde houve, no Brasil e no mundo, uma efervescência artística comparável a do Renascimento. E que, claro, com certeza deixou os sedimentos de uma nova era...

Teria mesmo o sonho acabado pra nossa geração..., como na frase emblemática de John Lennon...quero acreditar que não! Mas também fica o sentimento e a convicção de que certamente não veremos, um movimento artístico com tamanho impacto social, o que, de certa maneira rouba aos jovens de hoje, a possibilidade de fazer a viagem que muitos de nos fizemos e que mesmo os livros e documentários, não conseguem passar.

Evidente que o pensamento mágico que caracteriza a fase de adolescência, onde acreditamos poder mudar o mundo e fazê-lo mais como gostaríamos que fosse, continuara a permear as gerações vindouras, pois isso e da natureza humana, mas o sentimento encarnado nos quatro fabulosos que “materializaram” essa “possibilidade” penso que se perdeu para sempre, pelo menos para a geração atual.

Ah! Como e bom poder fazer essa viagem onde deixamos adormecidos tantos ideais! E onde temos realmente a impressão de que os sonhos eram possíveis, pois que aquilo que esta vivo em nossa memória, permanecera “vivo”.

Mas ficou uma certa melancolia considerando que o tempo - como diria o Cazuza – inexoravelmente, “não para”. Alem disso o fato e a constatação de que nossos filhos e essa geração, por mais que vivam profundas mudanças, perderam a base emocional que a nossa geração viveu.

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