quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Os Construtores de Imagens.


Como dizia nosso poeta maior: “nada e’ agora…tudo e’ mais tarde. O agora e’ fotografar para revelar no futuro...” e ai, com todos os detalhes que, não captamos naquele momento em que fotografamos. Não por acaso, em nosso processo de “envelhecimento” físico, vamos perdendo a memória de curto prazo e fortalecendo, avivando, a de longo prazo...isso não pode ser algo casual.

Nesse momento de maturidade, buscamos em nosso “arquivo” os registros de incontáveis imagens que se tornam ainda mais vivas e repletas de nuances, o que certamente as reforçam; as retocam ...as revivem e nos fazem viver (re-viver).

Se “tudo e’ mais tarde”, a questão fundamental deve ser: você, como construtor de imagens, das imagens que vai revelar “no futuro”, o que de fato esta capturando e armazenando no seu “revelador”...

Claro que eu não pensava nisso quando tinha 20 anos, mas agora que já entrei na casa dos 50, assim como o Poeta quando escreveu sobre a “arte de fotografar”... Hoje, mais do que revelar as incontáveis imagens do meu passado e torná-las parte viva do meu presente sob a forma de memórias, sinto-me mais e mais responsável pelas imagens que estou construindo neste momento...e que ainda espero revelar.

A vida se torna urgente e tranqüila (paradoxo) com o passar dos anos... bem mais do que quanto a “temos” em abundancia, na juventude. Assim, cada momento vivido passa a ter uma importância visceral de construção... das imagens que imprimimos em nossa memória e as quais esperamos revelar, re-viver ou simplesmente re-vivenciar com todas as nuances da construção imperceptível e inconsciente da nossa obra.

Fico imaginando o turbilhão de imagens que são produzidas incessantemente por alguém como Oscar Niemeyer que, ao longo dos seus mais de 100 anos, qualifico como um dos grandes construtores de imagens do nosso tempo. Imagino a fulgurante beleza do seu “mural”, o qual revive intensamente num fluxo continuo de revelação.

Da mesma forma, fico imaginando quantas e quantas pessoas, ao longo de uma vida inteira, apresentam um mural pobre e desolador. Quão triste a maturidade de pessoas que não souberam (ou não aprenderam) construir imagens para as revelar de forma a re-viver...e assim, como Pablo Neruda, poder “confessar que viveram...”.

“Fotografar” representa, acima de tudo, o sentido de nossa caminhada, um legado transmitido a nos mesmos, e o mais importante: em vida. O que certamente considero mais importante do que as imagens que imprimo ou projeto nos outros (o que não quero dizer que também não seja importante).

Como construtores de imagens, somos os únicos responsáveis em imprimir a nossas vidas o brilho e a cor de que ela pode ser feita, assim como também depende da gente torná-la cinzenta e opaca (penso em muita gente que conheci ao longo de minha caminhada, que nunca se deram conta da armadilha que representava o foco no poder sobre tudo e sobre todos...imaginem que tipo de imagens construíram essas pessoas)...

O que eu quero lhes dizer neste momento e’ bem simples: assim como John Lennon nos conclamava a sermos “guerrilheiros mentais” eu os conclamo a serem construtores de imagens positivas. Assim, quando estas se revelarem, lhes será possível desfrutar o gozo da indescritível beleza da VIDA... que não e’ feita agora e sim, mais tarde...

2 comentários:

LU FERNANDES disse...

Me orgulho tanto de fazer parte da sua vida Amado...Tenho imagens maravilhosas de nós dois que nunca cansarei de relembrar. Amo sua forma de ver e viver...

Unknown disse...

Cada dia te admiro mais e te amo mais! Obrigada por ser meu parceiro em tudo. Bjs